Mulheres Arpilleras se reúnem em Itatiaiuçu

Através do bordado, atingidas da PEABM registraram a memória de suas comunidades e expressaram sentimentos individuais e coletivos, sendo um espaço de partilha e troca

Mulheres Arpilleras se reúnem em Itatiaiuçu
Foto: Divulgação Aedas

“Fios e linhas que se emaranham para narrar um acontecimento. Cores e figuras para compor um sentimento. Sorrisos, choros e histórias que se misturam no bordado de resistência e memória de mulheres atingidas pelo risco de rompimento de uma barragem de rejeito.” Essas são as palavras da Assessoria Técnica Independente (Aedas) para resumir os encontros de Mulheres Arpilleras, iniciativa que busca promover um espaço de troca para as mulheres atingidas pelo acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) da ArcelorMittal em Itatiaiuçu. 

Desde maio de 2024, essas mulheres que, hoje, são líderes e coordenadoras do Grupo de Base de suas comunidades e lutam por uma reparação justa e integral se reúnem para bordar e conversar. A iniciativa, realizada em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mobiliza mulheres das comunidades de Vieiras, Veloso, Jardim São Luiz, Retiro Colonial, Corta Rio, Capoeira de Dentro, Pinheiros e Lagoa das Flores.

Denúncia e expressão

A Arpillera é uma técnica têxtil antiga e popular criada por bordadeiras do litoral do Chile, feitas com retalhos e sobras de tecidos bordados, se tornado fonte de sobrevivência e meio de expressão.

Conforme divulgado pela Aedas, no total, foram realizados 12 encontros divididos em 3 grupos. Cada grupo de mulheres construiu sua arpillera denunciando e expressando a sua realidade e história de suas comunidades com o risco de rompimento da barragem, anunciado em 8 de fevereiro de 2019. 

“Ali é o momento que a gente esquece das coisas ruins, ali juntas estamos fazendo algo especial, contar a história do que aconteceu, compartilhar as coisas ruins, saber que outras mulheres sentem os mesmos medos e angústias, a gente se fortalece”, expressou a atingida Jane Ribeiro da Silva.

Através dos trabalhos, as participantes registraram a memória das comunidades atingidas, expressaram sentimentos individuais e coletivos e reencontraram vizinhas que tiveram que sair da comunidade, sendo um momento de cuidado e partilha entre as mulheres. 

“Nos encontros misturamos várias gerações de mulheres com bagagem enorme de vida. Enquanto estamos tecendo nossas histórias, cada uma fala sobre sua vida, criação, sua família. É o momento pra gente mesma”, relatou a atingida Fabiana Aparecida de Lima.

Itatiaiuçu pelo mundo

No dia 14 de agosto, as mulheres se reuniram para o último encontro da atividade. Elas apresentaram suas arpilleras, contaram sobre suas experiências e construíram a carta que acompanha cada peça bordada. Nesta carta, as mulheres contam a história da arpillera, o processo de criação coletiva, suas inspirações e seus sonhos. 

Ainda neste encontro, as mulheres atingidas escolheram uma das arpilleras para ser exposta no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em São Paulo.